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A Lógica do Cisne Negro – livro de Nassim Nicholas Taleb

Livro A Lógica do Cisne NegroA Lógica do Cisne Negro é um livro sobre o improvável. Taleb fez um livro autoral, para si mesmo, para deixar registrado para a posteridade sua visão sobre o mundo e sobre determinadas interpretações dele, principalmente aquelas que de tão repetidas passam a ser tomadas como verdade e podem causar uma terrível falsa sensação de segurança.

Taleb alerta de uma forma cruel o quanto estamos expostos à riscos desconhecidos, improváveis e inimagináveis, e faz uso de altas doses de ceticismo e prática  (a que ele chama de empirismo) para mostrar que nem tudo é tão simples quanto parece, mas também não é tão complicado quanto poderia ser.

“Somos uma espécie cuja visão é estreita demais para que consideremos a possibilidade de eventos divergirem de nossas projeções mentais, mas, além disso, somos focados demais em questões inerentes ao projeto para que levemos em consideração a incerteza externa, o “desconhecido desconhecido”, por assim dizer.” (pg. 207)

A tradução deste livro não deve ter sido tarefa fácil. A linguagem não chega a ser rebuscada, mas também não é uma narrativa simples. O autor faz inúmeras referências a linhas de pensamento filosófico, técnicas de gestão e outros autores, alguns do século XX e outros de vários séculos atrás.

São 4 partes, num total de 19 capítulos. Só de referências bibliográficas são 41 páginas (da 409 à 450). Taleb faz no início do livro uma citação intrigante:

“…desisti completamente de ler jornais e de assistir à televisão, o que me proporcionou uma quantidade considerável de tempo livre (digamos uma hora ou mais por dia, o suficiente para ler mais de cem livros a mais por ano)…” (pg. 47)

Dá quase para dizer que a bibliografia está ali para o autor se gabar. O homem é uma máquina de ler e processar informações.

O livro começa muito bem, as partes 1 e 2 são excelentes, apresentando os conceitos que envolvem o universo da imprevisibilidade e desenvolvendo o argumento. A parte 3 tem um capítulo muito bom, o 15, mas a partir daí o livro esfria e se torna mais técnico, por assim dizer.

Os últimos capítulos são mais técnicos, abordando aspectos de estatística e eventualmente de matemática, se você não tem familiaridade com estes assuntos, o próprio autor sugere pular estes capítulos no início de cada um deles. A minha sugestão é a mesma: quando Taleb disser para pular um capítulo, pule! São pelo menos 3 capítulos que não acrescentam conceitos substanciais nem contribuem o suficiente para o conjunto do livro para valerem a pena serem lidos.

Mas se você chegar até eles, já terá gostado do texto de Taleb. Quem não gosta não passa dos 2 primeiros capítulos. Conheço pelo menos 8 pessoas que compraram este livro, mas somente 2 delas me disseram que o terminaram.

Chris Anderson, autor de A Cauda Longa cuja teoria é citada no Cisne Negro, faz um recomendação na contra-capa que resume muito bem o conceito central do cisne negro:

“Antes da descoberta da Austrália, as pessoas do Mundo Antigo estavam convencidas de que todos os cisnes eram brancos. Esta era uma crença inquestionável por ser absolutamente confirmada por evidências empíricas. Deparar-se com o primeiro cisne negro pode ter sido uma surpresa interessante para alguns ornitólogos, mas não é aí que está a importância desta história. Ela simplesmente ilustra uma limitação severa no aprendizado por meio de observações ou experiências e a fragilidade de nosso conhecimento. Uma única observação pode invalidar uma afirmação originada pela existência de milhões de cisnes brancos. Tudo que se precisa é de um único pássaro negro (que também, pelo que sei, é muito feio).”

Quase no final do livro, Taleb ainda dá uma tacada de gênio. Cita como o banco J.P. Morgan administra mal seus riscos e como a Fanny Mae estava sentada sobre um barril de dinamite (na página 285). Caso você não se lembre, J.P. Morgan e Fanny Mae foram duas das principais instituições no centro da “crise” imobiliária americana de 2008 e que se espalhou pelo mundo em 2009. O livro foi publicado em 2007, um ano e meio antes da crise. Ou o cara é muito bom mesmo, ou acertou um cisne negro sem querer. Prefiro acreditar na primeira hipótese.

Enfim, é um livrasso. É pesado, cheio de referências e não é exatamente uma leitura relaxante, mas é um dos melhores livros da década. É um livro para expandir horizontes, rever a forma de encarar certas verdades e ser mais cético quanto à “especialistas”.