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Como escrever um livro

Não existe fórmula pronta nem livro de receitas de como escrever um livro e tornar-se um bom escritor. Existem dicas, possibilidades que cada escritor pode adequar ao seu estilo para tornar suas linhas possíveis e atraentes.

Em geral, escrever um livro dá muito trabalho. A lenda da “inspiração” que desce e arrebata o autor só existe com muita leitura e pesquisa prévia. Mesmo a lendária história de que Mário de Andrade escreveu “Macunaíma: o herói sem nenhum caráter” em seis dias seguidos, não foi bem assim.

Mário era escritor e folclorista de carreira, conhecia através de muitas pesquisas sobre etnografia, mitologia e arte, as fábulas populares que usou para esboçar uma narrativa que cria um tipo brasileiro, entrelaçando todo esse conhecimento em uma história cheia de significado. Somente com toda essa bagagem, foi possível para Mário de Andrade refugiar-se em um sítio no interior de São Paulo para escrever uma de suas obras mais conhecidas em poucos dias.

Bons livros são como navios e o mar: precisam de um personagem de fôlego que os carregue através de uma linguagem que cuide para agarrar o leitor. Bons leitores não serão “enrolados” por um texto elegante, com boa fruição de palavras, mas sem uma história para contar.

O primeiro passo é justamente esse: que história você pretende contar?

Mentalize e escreva as principais ideias, cenas, diálogos, situações e até lugares que pretende que estejam presentes no livro. Defina sua temática: com o que você quer trabalhar? Que mensagem pretende transmitir ou sobre o que quer provocar reflexão? A alma humana, o caráter, o percurso de alguém dentro de um contexto de dor, de vingança, de superação, entender sentimentos, desvendar o cotidiano de uma família, contar histórias de investigação, criar universos diferentes?

Tenha em mente que mesmo nas histórias que contam investigações de crimes ou mundos paralelos, o universo a ser abordado também é o dos sentimentos humanos. Isso quer dizer que na história de um detetive que investiga assassinatos em série é preciso que o elemento pessoal esteja presente, através da história pessoal desse detetive, de suas aspirações, falhas, objetivos e de como ele agirá nos ganchos oferecidos pela história. Na literatura de fantasia, através do enredo e dos conflitos, os sentimentos também estarão presentes, por exemplo com a superação de um personagem, através de sua confiança, trabalho em equipe, objetivos nobres, etc.

Analise o mercado editorial da história que pretende escrever. Isso não quer dizer que você irá produzir uma ideia excessivamente comercial com único pretexto de vendas, mas que você vai se inteirar do que acontece quando um livro com essa temática é publicada.

Para começar, escrever um roteiro e anotar as ideias que tiver para não esquecê-las depois pode ajudar a dar um caminho para o trabalho. Nesse primeiro roteiro, não é preciso se ater a detalhes, mas à linha mestra da história, respondendo àquelas perguntas iniciais, sobre o que se pretende com a história e onde se pretende chegar ao fim. Note que não é preciso ter finais ou cenas definidos completamente, pois muitas ideias surgem com o fluxo da escrita.

Escolha os personagem principais (não exagere no número de personagens, que pode dispersar o leitor) sem plágios.

Um livro precisa conquistar os leitores, com elementos colocados para alimentar a história, como os “ganchos”, que oferecem viradas na história, provocam necessidades nos personagens e estimulam situações de conflito – entre os próprios personagens ou conflitos internos.

Nessa fase de esboço de roteiro e definição de um tema de interesse, cabe alguma pesquisa. Observe em detalhes o tema de seu interesse, leia sobre o assunto, investigue o que já foi escrito e avalie o que não se encaixa. Lembre-se: você sempre pode ser ousado desde que esteja disposto a dar um pouco mais de si.

Leve com você um bloco de notas ou celular em que possa anotar ideias que tiver pelo caminho. Nunca se sabe quando será pego por um “insight”.

Para libertar a imaginação do leitor e fazê-lo “viajar” com você, é preciso libertar a sua própria imaginação. Consumir bastante material criativo, como filmes, livros, blogs, vídeos, etc. pode ajudar a fornecer um material rico em ideias. E principalmente, materiais que se assemelham em gênero ao texto que você pretende desenvolver. Se estiver escrevendo um romance de aventura, leia mais – mas não somente – livros do gênero.

Como escrever um livro: o personagem!

Cada personagem precisa ter um objetivo mais ou menos definido na sua obra. Se não tiver essa ideia clara no começo, pode ir retirando ou modificando personagens conforme a história se desenvolve, mas no início, dê atenção especial ao seu protagonista.

Defina inicialmente qual é o seu grande objetivo ou o que ele precisará conquistar quando a história exigir uma posição. Seu personagem precisa desejar alguma coisa, que será impulsionadora de todo seu percurso.

Depois disso, defina como ele é. Qual o nome (tenha sempre em mente a força do nome que escolher. Lembre-se da cachorra Baleia em “Vidas Secas”), a idade, do que ele gosta, do que ele não gosta, como foi o seu passado, se esse passado precisa ser resolvido e influencia em sua personalidade atualmente, como são sentimentos, pensamentos… Entenda o que ele faria em determinadas situações. Quanto mais completo for o seu personagem, mais interessante ele será. Pense nele como uma pessoa. Uma pessoa é muito complexa, pode gostar de bossa nova mas odiar filmes nacionais, por exemplo. Pode adorar cozinhar e odiar receber pessoas em casa.

O mais importante, porém, é não “contar” com palavras, diretamente, quem é o seu personagem. O leitor precisa descobrir o personagem em suas atitudes, seus diálogos, seus pensamentos. Não dá para apresentar João como sagaz e esperto sem contar uma situação em que ele se saiu bem de uma enrascada.

Deixe aparecer os motivos do comportamento de seus personagens, dando liberdade a suas ações.

Todo personagem tem uma falha ou fraqueza. Pode ser o medo, a falta de confiança, autoconfiança em excesso, a raiva, o poder, a ingenuidade, imaturidade, ou características não psicológicas, como doenças, necessidades, pobreza, etc.

O adversário, antagonista, força o herói a olhar para sua falha e enfrentar a situação. O adversário não precisa necessariamente ser materializado na figura de um vilão, mas pode ser uma doença, uma situação limitante, uma montanha, o próprio conflito interno do personagem.

Depois de mostrar o seu personagem, alguma coisa acontece em seu cotidiano, o “gancho” da história. Esse é o início da história. 

A partir daqui, comece o esboço do livro. Encontre o lugar e o momento que são melhores para você se concentrar e dificulte distrações, como celulares e interrupções constantes. Nesse link, conheça um pouco das manias de escritores consagrados: http://fernandajimenez.com/2012/02/15/as-manias-dos-escritores/

Não dê tanta atenção para gramática, mas para o estilo do que está escrevendo, coloque a ideia no papel (ou computador). Correções podem ser feitas em um segundo momento. À princípio, deixe fluir a história e anote os trechos que necessitam de mais pesquisa. Em algum momento, é preciso parar de pesquisar e escrever, porque senão o texto nunca será começado.

Escreva, escreva e escreva. As palavras vão fluindo e muitos dos problemas iniciais vão se resolvendo nesse processo. Dê corpo a sua ideia.

“O pior inimigo do escritor é ele mesmo”. A frase é verdadeira: evite indisciplina, excesso de distrações, falta de persistência, desvios, medos. Escreva livremente.

Se tiver bloqueios criativos, escreva sobre outros assuntos, como notícias de jornal, cartas para amigos ou cartas-respostas fictícias, outros contos, outras histórias. Outra opção é ler um pouco, estimular sua mente com outras histórias criativas, mas sem ansiedade.

Começar uma história pode ser difícil, mas terminá-la, muitas vezes também pode ser muito complicado. Ernest Hemingway declarou ter escrito 47 finais possíveis para o romance “Adeus às armas”, de 1929. O autor disse que queria conseguir as palavras certas. Esse episódio mostra a capacidade das histórias de se desdobrarem em contextos surpreendentes.

E nos momentos de dificuldade, lembre-se da frase de Samuel Johnson: “O que é escrito sem esforço em geral é lido sem prazer”.

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