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Entrevista com a autora Melissa de Miranda

Nascida em 1987, Melissa de Miranda é paulistana, blogueira e jornalista urbana.Trabalhou como repórter e editora online da EPTV( Globo Campinas), onde desenvolveu o blog jornalístico Geração Y, voltado para o público jovem. Em 2010, contemplada com uma bolsa da Fundação Heinz-Kühn, atuou como repórter na emissora internacional Deutsche Welle, em Bonn, Alemanhã.

Confira a entrevista:

Qual a importância da leitura na formação pessoal e profissional?

Depende da leitura e depende da profissão. Todavia, acho que de uma forma ou de outra, é tremenda! Qualquer seja a leitura, qualquer seja mesmo, é isto que te separa do restante das pessoas. Não tem jeito: a leitura traz (muita!) bagagem. Não se resume apenas a uma melhoria significativa na sua forma de se comunicar, de articular as idéias, de escrever; na sua capacidade de engajamento… A leitura é um dos principais geradores de conhecimento. É importante ler, seja lá o que for, e ler muito. Aconselho a todas pessoas encontrar o que lhes interessa, o que lhes dá tesão, o que lhes move e a ler o máximo que pode sobre isto. Nem que o seu tema favorito não seja política, não seja socialmente relevante. Que sejam sapatos de salto ou panquecas doces, dane-se! Leia, leia tudo, tudo o que houver para ser lido sobre panquecas doces! É o que constrói quem você é e o que o diferencia profissionalmente das outras pessoas, basta encontrar a sua área de interesse. Ser informado é um bem inigualável! É possível, sim, ser um leitor desinteressado e ainda assim manter boas conversas. Ou um bom emprego, por exemplo. É perfeitamente possível não ler nada sobre o que faz, não ler nada sobre nada, sobre o mundo, sobre a vida, sobre filosofia e ainda assim manter um papo razoável, um cargo razoável numa empresa… claro. Garanto, porém, que nunca passará disto! Do “razoável”, do “OK”, do mediano. Conteúdo não é o tipo de coisa que se disfarça, pelo contrário, é exatamente o tipo de coisa que precisa-se esconder por detrás dos holofotes e de comentários genéricos. Falta de conteúdo te impede de progredir extraordinariamente. E este conteúdo ainda depente muito, junto às experiências cotidianas (na rua, em viagens etc.), do quanto se lê e informa-se.

Você acredita que o brasileiro lê pouco ou lê muito? Porquê? O que cada um pode fazer para mudar esta situação?

Mais do que acredito, eu sei que o brasileiro lê pouco. Li uma pesquisa recentemente que constatava justamente isto e também tive a oportunidade de comparar pessoalmente os hábitos de leitura em outros países (como a Alemanha) com os que os meus conhecidos brasileiros mantêm. Lemos muito pouco! Na própria faculdade de Jornalismo, meus colegas liam pouco: nem mesmo o jornal diário, o que era lamentável numa classe de futuros jornalistas. A solução? Bom… Por mais clichê que soe, a única forma de mudar este cenário é incentivando a leitura desde cedo. Não obrigando as crianças a ler, mas mostrando os aspectos positivos e gostosos da leitura. Procurando algo que os engaje, que desperte a curiosidade, faça rir, sentando junto e lendo junto, sempre incentivando-os a obter um novo livro, periodicamente. Com a internet, a leitura vem se tornando cada vez mais acessível e a desculpa do “ah, mas um livro é caro” já não cola mais! Quem já está crescidinho, pode procurar blogs que o interessem, tem a oportunidade de comprar livros sem sequer sair de casa, de ler uma prévia na internet e ver se gosta. É tudo uma questão de se deixar interessar e arranjar um espaço para a leitura… levar o livro consigo na hora do almoço, ler nos intervalos dos seus programas favoritos, na academia etc.

Quais práticas você utiliza para construir o hábito de leitura?

Curiosidade incessante. Sou assim: Qualquer livro que me interessa, eu compro ou dou um jeito de emprestar, de conseguir. Não importa como! E tento ao menos começar, ao menos ler um trechinho ali no meio… mesmo que não vá até o fim! Tenho muitos livros começados e não-terminados no meu apartamento, mas que ao menos sei do que tratam, que ao menos experimentei um pouco. Acho que tudo isto ajuda a construir sua bagagem cultural, ainda que seja uma leitura parcial. Daí vem meu hábito de ler… Obrigo-me a descolar todos os livros que me interessam, seja lá por que motivo, e assim que coloco minhas mãos nele: leio um pedaço. Uso também um velho truque, para instigar a leitura, que certamente muitas outras pessoas adotam: costumo ler uma linha ou um parágrafo de uma das páginas ao final antes de começar e crio teorias sobre o que aquele trecho poderia significar no enredo completo, baseando-me no título e no que quer que já tenha lido sobre a obra. Então, conforme leio desde o início, a minha teoria vai se alterando ou ganhando nova intensidade… sou muito curiosa, isto torna a leitura ainda mais instigante!

Quais tipos de leitura você tem o hábito de fazer?

Sempre gostei muito de leitura política, quando adolescente lia desde George Orwell aos verde-e-amarelos do Zuenir Ventura. Contudo, nos últimos anos, venho desenvolvendo o hábito de ler especialmente obras de jornalismo gonzo ou literário. E cada vez mais e mais contos! Venho procurado uma literatura mais poética, suja, intensa; tem me interessado muito a subjetividade humana.

Quais os 5 livros que você recomendaria a outras pessoas que lessem?

“Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” – Caio F. Abreu
“Medo e Delírio em Las Vegas” – Hunter S. Thompson
“Política” – Adam Thirlwell
“A Obscena Senhora D.” – Hilda Hilst
“Crime e Castigo” – Fiódor Dostoiévski

Qual o livro que mais mudou a sua vida?

Posso citar um conjunto de obras de um só autor? Desde trechos de “O Ser e o Nada” lidos na minha adolescência até mais recentemente “O Diabo e o Bom Deus”, ambos de Jean-Paul Sartre. Estas duas obras em particular influenciaram, ou melhor, iluminaram muito a minha perspectiva acerca da vida, do mundo em que vivemos e como vivemos nele, a sociedade, o indivíduo, a subjetividade. Alguns dos meus meus pensamentos e citações favoritos estão contidos nestes dois livros: “Se eu sacio os meus desejos, eu peco, mas me livro deles; se eu me recuso a satisfazê-los, eles contaminam a alma inteira” (O Diabo e o Bom Deus). Recomendo a qualquer um!

Se você pudesse escolher somente um livro para levar consigo a uma viagem, qual seria?

O clássico do Jack Kerouac, “On The Road”. Acho que aquelas páginas são capazes de ditar o ritmo de uma viagem e constantemente lhe inspirar a conhecer novas pessoas, novos lugares, a viver mais intensamente. Seria proveitoso levá-lo junto!

Qual(is) o(s) próximo(s) livro(s) na sua lista de leituras?

“A Noite Escura e Mais Eu” – Lygia Fagundes Telles
“Flores Raras e Banalíssimas” – Carmen L. Oliveira
“As Teorias Selvagens” – Pola Oloixarac
“Inferno” – Eileen Myles (li trechos já, é muito bom!)
“Sexual Personae: Art and Decadence from Nefertiti to Emily Dickinson” – Camille Paglia

Qual o seu autor preferido?

De longe, o Caio Fernando Abreu. Me apaixonei pelos seus temas e a sua forma de escrever quando era adolescente, desde então venho tentado ler todos os seus livros. Hoje em dia, ele se popularizou muito na internet e acho isto ótimo: há alguns anos, eu tinha dificuldade de encontrar cópias dos seus textos menos populares e agora as pessoas vêm trancrevendo-os, publicando-os em blogs, compartilhando na rede… ficou bem mais acessível! Recentemente também tenho lido muitos textos de um colunista chamado Hugo Schwyzer, que escreve para uma projeto online gringo chamado “The Good Men Project”. Ele não tem livros publicados e trata-se de uma leitura mais política, ligada à sexualidade e sociedade, mas vem me chamando muito a atenção.