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Húmus – livro de Raul Brandão

Humus, livro de Raul BrandãoEnviado por Guilherme Lopes da Silveira – Em 1917, o mundo recebe a primeira obra existencialista e a renega. Embora muitos estudiosos deem esse título a outros livros, Húmus foi, sim, a primeira a abordar a temática. Então por que, tendo em vista esse fato, ela não é aceita como realmente é? Por simples questão, no caso de resposta, de falta de maturidade. Um mundo decadente nunca estará apto a se ver refletido tão cruelmente pelos olhos de um decadentista português. Raul Brandão discorre sobre o cotidiano falido que a sociedade mantinha àquele tempo e, entre a fina divisa da dicotomia loucura x razão, divide o livro com Gabiru, seu alterego, que, sob os olhos da minha leitura, mais se faz concreto que o próprio Raul. Tornando-se, então, mais real, enquanto Raul vira projeção.

O livro todo é um avanço. Dividido em 19 capítulos e esses capítulos subdivididos por datas, como em cartas, pouco importa a ordem de leitura. Há, claramente, uma linearidade, mas nada que impeça a aventura de subverter as regras e lê-lo de outras formas. O impacto será igualmente forte. Da maneira como se constrói, nota-se que há uma tradução do que a própria história quer dizer. Continuá-lo é desgastante em princípio, por outro lado, após algumas páginas, deixá-lo é impossível. Ele vai te consumir e vai te mudar. Aquele que o tiver em mãos e o terminar exatamente como começou não o leu, só o evitou. Húmus te provoca.

Com personagens sem nenhum aprofundamento psicológico ou físico, deixa-se, cada vez mais, claro de que o enfoque é quase absoluto na história em si. Desde a maneira que a mesma se impõe aos acontecimentos históricos que o livro narra. Olhá-lo, mais uma vez, por curiosidade é quase pecado. Se eu tivesse a chance de o tê-lo original, já que li uma cópia, o faria unicamente pra pô-lo numa moldura e o colocar acima da minha cama. Não cabe em palavras o abraço de theia que foi me jogar no ambiente que Raul foi capaz de criar com tanta maestria.

Publicado originalmente em seu blog, Devaneio Quotidiano.