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Ler Devia Ser Proibido: Um Manifesto Irreverente em Defesa dos Livros

“Ler Devia Ser Proibido” é um livro que chama a atenção desde o título. Com uma frase provocadora e inusitada, o autor nos convida a refletir sobre a importância da leitura de uma maneira original, sarcástica e, acima de tudo, apaixonada. Publicado originalmente pela editora LeYa, o livro reúne textos do jornalista José Luiz Goldfarb, figura importante na cena cultural brasileira e reconhecido pelo trabalho de incentivo à leitura em diversas plataformas.

O objetivo deste artigo é analisar a obra “Ler Devia Ser Proibido” sob uma perspectiva crítica, apontando os principais temas abordados, o estilo do autor, a linguagem utilizada e sua importância no cenário da literatura brasileira contemporânea. Se você é um amante dos livros, este título certamente vai provocar sorrisos, reflexões e até identificação pessoal.

O título como provocação: ler incomoda?

Ao olhar rapidamente para a capa de “Ler Devia Ser Proibido”, é natural que o leitor estranhe ou até mesmo fique incomodado. Afinal, em tempos onde se discute cada vez mais a necessidade de incentivo à leitura, por que alguém escreveria algo que sugere justamente o contrário?

É aqui que entra o brilhantismo da obra: a frase não é um ataque à leitura, mas sim uma ironia que escancara a falta de valorização dos livros na sociedade moderna. Ler incomoda, sim — mas incomoda aqueles que preferem a alienação ao conhecimento. Incomoda os que não querem questionamentos, os que não suportam ideias diferentes ou mentes inquietas.

A leitura como forma de resistência

Ao longo das páginas, o autor defende a leitura como uma poderosa forma de resistência. Ler é um ato revolucionário. Quem lê pensa, questiona, duvida, cria. E isso pode ser perigoso para sistemas que preferem manter o controle por meio da ignorância. Nesse contexto, “ler devia ser proibido” pode ser entendido como uma crítica à maneira como a leitura é marginalizada ou relegada a segundo plano em muitas políticas públicas e práticas educacionais.

A obra traz essa discussão de maneira leve, quase bem-humorada, mas com um profundo senso de crítica social. Goldfarb expõe, por exemplo, como o acesso à leitura ainda é desigual e como muitas pessoas nunca foram verdadeiramente incentivadas a desenvolver o hábito de ler. Não por falta de inteligência ou vontade, mas por ausência de oportunidades.

Crônicas cheias de referências e paixão

“Ler Devia Ser Proibido” é composto por uma série de crônicas que falam sobre o prazer da leitura, os autores favoritos do escritor, eventos literários, experiências pessoais e até mesmo os livros que mudaram sua vida. A estrutura fragmentada do livro permite que o leitor escolha por onde começar, tornando a leitura ainda mais acessível e cativante.

Nas crônicas, encontramos referências a grandes nomes da literatura, como Jorge Luis Borges, Clarice Lispector, Franz Kafka, Gabriel García Márquez, entre outros. Mas o autor não se prende apenas aos “clássicos”: ele valoriza também os autores contemporâneos, os escritores independentes e a literatura brasileira atual.

É impossível ignorar o tom de paixão presente em cada página. Goldfarb fala sobre livros como quem fala de amigos íntimos, como quem carrega histórias debaixo da pele. Isso aproxima o leitor e cria uma conexão imediata com o texto.

Uma escrita leve e acessível

Outro ponto forte da obra é a linguagem adotada pelo autor. Longe de textos acadêmicos ou teóricos, “Ler Devia Ser Proibido” aposta em uma escrita fluida, coloquial e cativante. José Luiz Goldfarb escreve como quem conversa com o leitor, tornando a leitura envolvente e acessível para todos os públicos.

A leveza da escrita não impede, no entanto, que temas profundos sejam abordados. Questões como a função social da leitura, o papel das bibliotecas, o incentivo à leitura nas escolas e a elitização da literatura são discutidas com propriedade e sensibilidade.

O papel das bibliotecas e dos mediadores de leitura

Em várias crônicas, Goldfarb destaca a importância das bibliotecas públicas e dos mediadores de leitura — pessoas que atuam como pontes entre os livros e os leitores. Ele ressalta que, para transformar a realidade de um país, é necessário investir em espaços de leitura, democratizar o acesso à informação e formar leitores críticos.

Mais do que incentivar a leitura, é preciso mostrar que o livro pode ser um companheiro, uma ferramenta de transformação pessoal e social. O autor faz questão de lembrar que o primeiro contato com a literatura nem sempre é fácil, mas que ele pode ser mágico se mediado por alguém apaixonado e dedicado.

A leitura como construção da identidade

Outro aspecto relevante de “Ler Devia Ser Proibido” é o entendimento de que a leitura é essencial para a construção da identidade pessoal. Ao ler, o indivíduo se vê, se reconhece e se projeta. Ele encontra respostas para suas angústias, compreende o mundo de forma mais ampla e desenvolve empatia.

Goldfarb acredita que ler é um ato de autoconhecimento. Por isso, ao longo do livro, ele compartilha experiências próprias que mostram como os livros influenciaram sua trajetória de vida, suas escolhas profissionais e até mesmo seus valores.

Crítica à superficialidade da cultura digital

Embora o autor não se coloque contra as novas tecnologias, há uma crítica clara à superficialidade da cultura digital contemporânea. Em tempos de redes sociais, leitura de manchetes e conteúdos descartáveis, “Ler Devia Ser Proibido” surge como um chamado para a leitura profunda, para o mergulho no texto, para a experiência transformadora de um bom livro.

Goldfarb não demoniza a internet, mas defende que ela não pode substituir a experiência de leitura literária. Ele argumenta que é possível (e necessário) conciliar as duas coisas — mas que isso exige esforço, disciplina e paixão pelos livros.

O livro como objeto de afeto

Além do conteúdo, o autor reflete também sobre o valor material do livro. Fala sobre o cheiro das páginas, o prazer de visitar livrarias e sebos, o apego aos exemplares lidos na adolescência. Para ele, o livro não é apenas um suporte de informação, mas um objeto de afeto, memória e história.

Essa visão romântica — mas sincera — do livro como companheiro de vida é um dos grandes encantos da obra. Ela nos lembra que os livros, muitas vezes, são guardiões das nossas lembranças mais queridas.

Uma leitura necessária para educadores, pais e leitores iniciantes

“Ler Devia Ser Proibido” é indicado para todos que amam os livros, mas também para aqueles que desejam entender como nasce e se constrói um leitor. Educadores encontrarão na obra inspirações para o trabalho em sala de aula. Pais poderão compreender melhor como despertar o interesse dos filhos pela leitura. E leitores iniciantes terão um verdadeiro guia afetivo de como se apaixonar pelos livros.

Ao mesmo tempo, o livro também serve como manifesto para quem já ama ler, mas se sente solitário em um mundo cada vez mais distraído. Ele funciona como um abraço acolhedor, que diz: “você não está sozinho”.

Considerações finais: um convite à leitura apaixonada

Em resumo, “Ler Devia Ser Proibido” é uma obra envolvente, provocadora e, acima de tudo, necessária. Em um país onde o índice de leitura ainda é baixo, onde o acesso ao livro ainda é desigual e onde o hábito de ler compete com tantas distrações digitais, este livro funciona como um alerta e uma celebração.

José Luiz Goldfarb consegue reunir crítica, humor e paixão em uma única obra. Ele nos convida a pensar, a questionar e, principalmente, a ler — cada vez mais, com mais profundidade e mais prazer.

A provocação do título, portanto, cumpre bem sua função: chocar para atrair, ironizar para ensinar e emocionar para transformar. “Ler Devia Ser Proibido” é mais do que um livro sobre livros — é uma ode ao poder da palavra escrita, à arte de contar histórias e ao direito (e dever) de ler o mundo.

Se você ainda não se apaixonou por um livro, talvez este seja o primeiro. Se já é apaixonado, vai se sentir em casa. E, em ambos os casos, vai terminar a leitura com a certeza de que ler jamais deveria ser proibido — mas sim incentivado, celebrado e compartilhado.