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A Grande Mudança – livro de Nicholas Carr

Livro A Grande Mudança – Nicholas CarrNicholas Carr é o cara que, entre muitas outras coisas, escreveu aquele polêmico texto no The Atlantic: Is Google making us stupid?

Livro The Shallows – Nicholas Carr

Seu novo livro The Shallows – What The Internet Is Doing To Our Brains (ainda sem data de lançamento prevista para o Brasil) está causando grande alvoroço. Meu amigo Rodolfo Araújo, leitor voraz e blogueiro ácido, já comentou o The Shallows no seu blog.

A Grande Mudança é anterior, algo entre Is Google making us stupid? e The Shallows.

Nicholas Carr escreveu um livro excelente. Olhando o mundo da tecnologia e da internet “de fora”, Carr não sofre da visão em túnel que assola os profissionais da área e não vê a internet de uma perspectiva curta, mas sim como um recurso que serve à humanidade como um serviço público. Aliás, há duas expressões que Carr usa muito em A Grande Mudança com sentidos bastante singulares: “serviço público” e “supercomputador mundial”.

Como “serviço público” ele entende um serviço disponível a todo o público, como a eletricidade. Não que seja um serviço público no sentido de ser gratuito, como constumamos entender no Brasil, mas no sentido de servir ao público, ainda que mediante o pagamento de uma taxa de consumo.

Por “supercomputador mundial” Carr entende a própria internet. Ele usa a expressão “supercomputador mundial” justamente para dissociar desta internet que conhecemos e usamos hoje, ainda embrionária, por melhor que seja.

Carr vê um futuro próximo sendo construído nas próximas décadas, no qual a soma da capacidade de todos os computadores da internet e a constante migração de dados para o formato digital e disponíveis em larga escala em contexto público possibilitará o surgimento de uma inteligência artificial.

Ao explicar a origem da eletricidade e o projeto de Thomas Edison para a produção de eletricidade local em corrente contínua, Carr descreve o quanto uma visão, uma invenção e depois uma infindável sequência de inovações permitiu que grande parte do Ocidente economicamente desenvolvido tivesse acesso à eletricidade num período de poucas décadas.

O projeto inicial de Thomas Edison era genial, mas tinha grandes falhas. Sua visão de homem de negócios acabou por sobrepor sua visão como inventor, fazendo com que seu projeto de eletricidade ficasse rapidamente obsoleto. Simultaneamente, um grande número de outros inventores se juntou a Edison enquanto outros começaram a competir com ele, melhorando gradativamente e rapidamente o tanto os sistemas de produção quanto os de distribuição de energia elétrica, possibilitando que a humanidade dominasse este recurso. A mudança para corrente contínua e a produção centralizada que grandes quantidades de energia, em usinas, foram duas inovações que o genial Edison não pôde prever nem dominar.

Depois de dominar a eletricidade, a humanidade começou a atravessar dezenas de mudanças sociais em uma escala sem precedentes, desde a convivência familiar doméstica até os sistemas de produção industriais, que durante a Revolução Industrial haviam evoluído da força muscular de homens e animais para a força motriz das rodas d’água e dos motores à vapor, e agora contavam com uma força maior, estável e melhor: a eletricidade.

Na primeira metade do livro o autor analisa estas mudanças e todos os benefícios que a eletricidade trouxe à humanidade, mas também debate aspectos sociais e dúvidas que surgiram durante o processo, os medos, as ansiedades e os receios que as pessoas tinham ao tratar com a eletricidade onipresente.

Daí vem a grande sacada de Carr, ao usar a analogia com a história da eletricidade para a internet, procurando sair do olho do furacão e tentar antever para o onde o furacão se encaminhará a seguir. Genial.

No meio do caminho, o livro analisa por exemplo as mudanças na mídia, como a crise nos jornais, a migração de empregos entre continentes, resultado da globalização, mas também da facilidade de usar a internet como canal. Entre outros assuntos, Carr fala sobre a Amazon, o CRM (os softwares de relacionamento com clientes, especialmente os online), fala sobre Bill Gates, o crescimento da indústria da computação desde a invenção do computador de cartões perfurados de Herman Hollerith.

O capítulo oito “O Grande Desmanche”, fala especialmente sobre a indústria de conteúdo na internet. Destaca as mudanças que recaem especialmente sobre o jornalista, mas não poupam também a fotografia, o design, a televisão, o rádio e outras mídias. Se você é um profissional que trabalha com conteúdo, não leia o livro todo se não quiser, mas leia pelo menos o capitulo oito.

A Grande Mudança é o melhor livro que li em 2010. É fenomenal e traz à tona questionamentos fundamentais tanto do ponto de vista profissional quanto do ponto de vista pessoal. Para quem entender a importância da tecnologia de computação em redes e os horizontes onde podemos chegar, é leitura obrigatória!

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Resenha fornecida por Rafael Rez Oliveira.

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