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Showrnalismo – livro de José Arbex Jr.

Livro Showrnalismo - José Arbex Jr.José Arbex Jr. trabalhou vários anos na Folha de S. Paulo, onde foi editor do caderno Mundo. É doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de jornalismo da PUC-SP. Atualmente é editor da revista Caros Amigos, tradicional revista da esquerda politizada.

O livro começa bem na esquerda, com prefácio de João Pedro Stédile, conhecido pelo MST. De cara, Arbex já demonstra que a isenção é algo complicado. Qualquer texto, por mais massacrado que seja por um Manual de Redação e Estilo como o da Folha, pode sugerir algum posicionamento político, intelectual, ideológico do jornalista. Ou do autor do texto, mesmo não sendo jornalista.

Showrnalismo é um livro que ensina a ler a mídia. Não ler a notícia propriamente dita, mas a imprensa em si. É um livro cético, crítico, por vezes ácido, mas definitivamente um livro para quem rejeita a grande imprensa, não acredita na mídia tradicional e quer ler o jornalismo, não a notícia. É um manifesto que aborda a transformação da notícia em um espetáculo midiático que só quer audiência, ao invés de transmitir a informação de forma refletida.

Trecho do livro:
“‘Fatos’ e ‘notícias’ não existem por si só, como entidades ‘naturais’. Ao contrário, são assim designados por alguém (por exemplo, por um editor), por motivos (culturais, sociais, econômicos, políticos) que nem sempre são óbvios. Mas essa operação fica oculta sob o manto mistificador da suposta ‘objetividade jornalística’.”

Claro que um mundo onde as pautas não sofrem influência de poderes políticos e econômicos é um mundo de sonho, uma utopia quase impossível, mas o grande trunfo de Arbex é mostrar que poderia ser – pelo menos – um pouco melhor.

Aproveitando duas décadas de acontecimentos jornalísticos de peso – a queda do Muro de Berlim, o impeachment de Collor, a Guerra do Golfo, o Plano Real, a era FHC, a guerra na Bósnia – Arbex ilustra as abordagens da mídia e como estes pontos de vista podem manipular a opinião pública, sem que quase ninguém se dê conta.

Um exemplo do qual nunca me esqueci é o rótulo de terrorista imposto aos muçulmanos, aos palestinos e aos sérvios. Quando a mídia noticiava o Oriente Médio ou os Bálcãs, se referia a determinadas etnias como “terroristas”, “ex-soviéticos” ou “fundamentalistas”. Arbex ilustra estes argumentos com trechos de reportagens e exemplos publicados na Folha, mostrando como o show da mídia constrói uma imagem deformada da realidade e cria uma memória coletiva totalmente manipulada e editada.

“Mintam, mintam, até que todos acreditem em vocês.” Goebbels

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