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A Viagem do Descobrimento – livro de Eduardo Bueno

A Viagem do DescobrimentoAventura, informação e descobrimento. E não digo descobrimento necessariamente no sentido do descobrimento do Brasil, mas porque na obra “A Viagem do Descobrimento”, do jornalista Eduardo Bueno, descobrimos muitos aspectos relacionados às navegações e a história que até então eram como terras desconhecidas para nós. Nas primeiras linhas da obra, o autor nos coloca em meio ao clima das navegações, descrevendo todo o cenário marítimo, revelando-nos palavras típicas ao reino dos mares e as possíveis sensações dos marujos diante dessa paisagem.

Depois dessa introdução e familiarização com o cenário, temos um apanhado histórico, começando pelas primeiras ações dos navegantes portugueses até a chegada ao Brasil. Mas o mais interessante é o fato da descrição da vida dentro das naus, destacando-se a religiosidade presente entre os lusitanos. Em seguida, deparamo-nos com a questão da relevância para os portugueses do ”achamento” dessa nova terra, pois apenas depois de décadas é que de fato a “ilha” seria vista como uma verdadeira “Hy Brazil”.

Bueno retorna sempre ao ponto de partida – propriamente dito – de Cabral em Lisboa, descrevendo a cena como um grande acontecimento da época. Então, é aí que ficamos sabendo que a viagem estava relacionada com as atividades comerciais do reino português, confirmando a hipótese de que o “descobrimento” das terras brasileiras não foi por acaso. Cabral já tinha a intenção de fazer uma escala em certas terras que os navegantes predecessores acreditavam que poderiam ser alcançadas.

E é nessa linguagem jornalística que o texto procede, uma linguagem objetiva e de fácil compreensão. O autor descreve minuciosamente dados como o nome de cada nau, sua capacidade e seu respectivo comandante, bem como uma breve biografia de cada um deles. E, ainda, mostra-nos informações sobre todo o financiamento da viagem, destacando até mesmo que parte dela foi através de capital privado.

Entre as personagens importantes da história dos descobrimentos que o jornalista nos apresenta, encontra-se Bartolomeu Dias, o primeiro navegador a dobrar o Cabo das Tormentas – nome dado por ele mesmo, e que mais tarde passaria a se chamar Cabo da boa esperança – onde o viajante viria a naufragar. Além dele, conhecemos um pouquinho mais sobre Afonso Furtado, e ainda encontramos em quase todo o livro passagens da importante obra de Pero Vaz de Caminha.

E Cabral? Quem foi mesmo Pedro Álvares Cabral? Essa é outra questão que Bueno dispõe-se a responder, contando-nos sobre o fidalgo que enriquecera em virtude de seu casamento, e que um dia viria a ser indicado para chefiar uma importante expedição. Expedição essa que resultaria na conquista lusitana de um terceiro continente, pois o reino português já obtinha inúmeras feitorias na África e na Índia.

Pois que, é na segunda parte do livro “A viagem do descobrimento” que procede detalhadamente esse caminho de conquistas e descobertas portuguesas, e também todo o desenrolar das questões internas de Portugal. Destacando-se nessa história o Infante D. Henrique, que na obra é apresentado como um personagem um tanto contraditório e misterioso. “Monge-guerreiro, obcecado, teimoso, celibatário e asceta, D. Henrique de fato era uma figura imponente, permanentemente envolto em um manto negro” (pág.49), cabendo ao leitor tirar suas conclusões sobre o “Navegante”. Logo após uma pequena crise no reino, retomam-se as viagens pelo território africano. E é quando ficamos sabendo o contexto exato onde inicia o império escravagista. D. Henrique morre, deixando um importante legado aos navegantes vindouros.

Cristóvão Colombo e Vasco da Gama também são apresentados, tendo suas vidas narradas de modo que é mostrada a importância de cada um na história das navegações. E, mais uma vez, Eduardo Bueno volta ao momento da partida de Cabral, dando-nos preciosas informações como, por exemplo, o porquê de Porto Seguro ter esse nome, e faz-nos refletir sobre o fato do que teriam pensado os índios sobre aqueles forasteiros – informação essa que jamais poderemos saber.

Mais interessante ainda é as informações sobre o que acontece depois da volta de Cabral para Portugal. Ele retorna em Julho de 1501, antes disso enfrenta alguns problemas em Calicute – destino oficial da missão. Depois da sua chegada, é convocado por D. Manoel a participar de uma nova armada contra Calicute, seria a “Esquadra da Vingança”. Porém, Pedro Álvares Cabral recusa-se ao saber que seria subcomandante, e por assim, de certa forma ir contra o rei, ele se auto exila e acaba morrendo quase que no anonimato.

Passam-se duas décadas depois da morte de Cabral, até que surgem teses com a ideia de que a descoberta do Brasil fora por acaso, e segundo essas informações que Bueno traz, podemos ver de certa forma uma intenção dos portugueses, pois os cronistas dessas teses tinham acesso aos documentos oficiais como a “Relação do Piloto” que em nenhuma passagem descreve a suposta tempestade que teria ocasionado a chegada da frota nas terras brasileiras – assim relata o autor desta obra em análise. E mais de trezentos anos mais tarde é que as atenções voltam-se a esses documentos, concluindo-se então, que a descoberta talvez tenha sido intencional. E em 1920 surge a tese de que outros navegantes já haviam chegado ao Brasil antes de Cabral.

Enfim, em “A Viagem do Descobrimento”, Eduardo Bueno traz importantes dados para que tiremos inúmeras conclusões sobre essa questão do descobrimento do Brasil, mas como o próprio autor diz: “essa é uma questão aberta, e por assim ser só aumenta o seu fascínio”.

Resenha enviada por Daniele Bach

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