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Nas Sombras da Justiça – livro de Daniel Carajelescov

Nas sombras da JustiçaEnviado por José Mendonça Neto – O livro Nas Sombras da Justiça, de Daniel Carajelescov pela RG Editores, lançado no início deste semestre deveria ser leitura obrigatória, inicialmente para os operadores do direito e depois por todos nós, simples mortais, que não temos pedigree suficiente para digerir as mesmas informações pelo lado de dentro. Com mestrado em Direito Penal, vinte e cinco anos de serviços prestados como Procurador no Estado de São Paulo, Carajelescov organiza testemunhalmente em sua obra ficcional um roteiro romanceado de como as coisas podem fugir do controle na esfera que deveria ser a tão nobre e desejável competência no Judiciário.

Carregando o leitor pelo coloquialismo de sua construção literária, Carajelescov revela um pouco dos possíveis e insistentes desvios desse poder refratário ao controle social que, o autor defende como a maneira mais republicana e democrática de fazer com que as regras dos jogos ou contendas sejam tratadas. Se não reproduz exatamente ocorrências que testemunhou ou tomou conhecimento ao longo de tantos anos de Procuradoria e outros tantos advogando, apenas o faz para evitar gasturas indesejáveis ao leitor. Ao contrário, entrega para o deleite e, principalmente a reflexão, o que podemos chamar de muitas observações ligeiramente ficcionadas, mas bastante pertinentes.

O resultado é a certeza do apoio e gratidão dos magistrados que, como ele, preserva a correção nas condutas no exercício de suas funções; o incômodo dos que se faz de desentendidos ou indiferentes e o mal estar daqueles cujo comportamento vem denunciado na obra. As coisas precisam mudar e nenhuma preocupação aflige o autor com relação a como o corporativismo da categoria vai receber a obra que joga um pouco de luz nas sombras. Para ele e alguns outros se faz necessário que a magistratura, durante o exercício de suas funções busque, tanto quanto possível, ser fiel aos preceitos e a jurisprudência já disponível, ou seja, resolvendo casos com lisura, precisão, celeridade e síntese. “Deixem para a academia as sentenças laudatórias”, conclama o autor.

Até mesmo o tão recorrente argumento do livre convencimento do juiz, segundo observação do Procurador do Estado não pode servir a interesses escusos e essa acertada crítica é uma das indicações mais contundentes no contexto da obra. Iniciada a leitura da ficção ficará evidenciado durante o transcorrer da trama os diversos papéis e as eventuais margens de manobra possíveis de estarem acontecendo até mesmo neste exato momento, e essa leitura é mais que desejável para que se desconstrua, pelo menos parcialmente, a sacralidade que envolve a magistratura.

Enquanto profissional do Direito, Carajelescov tem sono tranqüilo quando se avalia sua própria trajetória, entretanto, a produção deste importante livro indica que ele precisava fazer mais. Que a leitura de Nas Sombras da Justiça sirva principalmente para que seus pares façam uma reflexão para entender, aceitar e reconduzir exatamente para onde a sociedade espera o prestimoso Judiciário. Leitura agradável em apenas 310 páginas o leitor passará a olhar com outros olhos esse imponente e mais paroquiano dos poderes.