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O Amor nos Tempos do Cólera – livro de Gabriel García Márquez

Livro "Amor nos Tempos do Cólera", de Gabriel García Márquez“O Amor nos Tempos do Cólera”, livro do renomado escritor Gabriel García Márquez, foi publicado pela primeira vez no ano de 1985 e retrata a história de um casal que durante muito tempo se corresponde por telégrafo, que por sinal, foi a maneira pela qual estes se conheceram. O livro se inicia com o casal, já de idosos, Fermina Daza e Juvenal Urbino sendo apresentados. Logo de início se descobre que outro personagem, Florentino Ariza, nutre um amor que já dura mais de 50 anos por Fermina, que jurou amor eterno e que iria esperá-la por toda a sua vida (ou pelo menos até a morte de seu marido, Juvenal).

Florentino conheceu Fermina quando ele ainda tinha 19 anos e ela 15. Este amor durou três anos de correspondências repletas de juras de amor. Ele era empregado dos correios e não possuía maiores atrativos financeiros ou mesmo físicos. Encontraram-se pela primeira vez na entrega de outra carta, quando ocorre a cobrança da resposta à anterior, já que ela acabava de voltar de uma viagem que o pai a obrigou a fazer na esperança de afastar a filha dele. Neste momento ela percebe que estivera enganada quanto ao homem que sonhou, depois de tantas juras e trocas de correspondências, mas ainda sim ele jurou que seu amor seria eterno.

Florentino repensou e ponderou sua decisão anterior, porém não abriu mão de seu amor. Desiludida, Fermina casa-se com Doutor Juvenal Urbino, que era um homem conhecido por sua linhagem e fortuna, causando desespero em Ariza. Ele então decide que vai esperar pela morte do companheiro de sua amada com paciência. Neste meio tempo, entrega-se a amores ocasionais para acalmar o sentimento que leva em seu coração.

Ele persegue este sentimento de maneira esperançosa por mais de 50 anos, até que chega o dia em que o rival morre. Ele então reafirma seu amor a Fermina (já na primeira noite de sua viuvez). Após todos este anos, eles podem enfim viver este amor, o que de fato vem a acontecer, mas não da maneira que sonharam e desejaram, principalmente por parte de Ariza. Isto não quer dizer que ele a deixou de amar, mas apenas que deixou de ser platônico para dar lugar a um sentimento maduro e coerente com a realidade.

Toda a história contada no livro “O Amor nos Tempos do Cólera” conta com um realismo impressionante, característica bastante marcante nas obras de García Márquez e que nesta, foca em assuntos como amor, envelhecimento e a morte. Este é basicamente os temas tratados no enredo que se desenrola no decorrer do livro, e que mostra as relações amorosas dos personagens ao longo de todas as suas vidas e conforme o tempo vai passando e vão envelhecendo, chegam mais perto da morte ou mesmo encontrando-se com ela.

Para quem busca um livro repleto de realismo e com excelentes pitadas de romance, este é um dos mais indicados, tanto que no ano de 2009 virou um filme, pelas mãos do diretor Mike Newell. Sem sombra de dúvidas, “O Amor nos Tempos do Cólera” é um dos melhores livros de Gabriel García Márquez.

2 comments

  • Reler um livro é sempre interessante. A primeira vez que li Gabriel Garcia Márquez foi como leitor contemplativo. A segunda, foi para aprender como um mestre da literatura usa as regras clássicas do romance. O que descobri? Que quebrou muitas. Lembrando sempre que, para quebrar uma regra, primeiro é preciso conhecê-la.

    Na primeira frase, ele diz que sua história é sobre “o destino dos amores contrariados.”

    Gabo vai fisgar o leitor pelo pitoresco. Usa expressões encantadoramente poéticas. Penas de pássaros mágicos e serenatas noturnas nos introduzem nesse idílio.

    No primeiro capítulo encontramos um refugiado antilhano. Que não faz parte do enredo. O que faz o personagem Jeremiah de Saint-Amour, esse disfarçado suicida, em uma cena de horror ao lado do seu pobre cão? Juventino Urbano aí comparece como médico para descobrir que nada sabia do passado revolucionário do suposto amigo, de sua vida amorosa, de seu motivo para procurar a morte.

    Dr. Urbano relata o declínio do corpo, confessa “seus temores de não encontrar a Deus na escuridão da morte”, contempla “o esplendor efêmero daquela tarde a menos, já partindo para nunca mais.” Ele nos fala de sua família rica, da epidemia de cólera, de arquitetura caribenha e desigualdades sociais. De repente somos apresentados a cães, gatos, tartarugas, uma lista de pássaros os mais exóticos, páginas certamente bem humoradas mas excessivas. Tudo isso para chegar no louro fujão – fuga de trágica consequência – e na saga dos bombeiros que tentam capturá-lo.

    O autor não se limita ao assunto do livro. Pelo contrário, somos convidados a conhecer costumes caribenhos, a história detalhada de um naufrágio e das tentativas de resgate do galeão, as vestes das classes sociais, a refletir sobre o método de ensino dos colégios católicos, as reformas higiênicas impostas pela doença. Muitas outras detalhadas descrições pitorescas, bem humoradas e até politicamente apimentadas se sucedem, para desespero do leitor impaciente e deleite dos curiosos. Uma cena particular choca pela sua impropriedade: o banho em que as duas primas se catam lêndeas. Lêndeas? Ao lado das “numerosas espécies de insetos daninhos que invadiam a casa nos meses de chuva”.

    “Nesta época em que as carruagens começaram a desaparecer do mundo”, “o espaço das arcadas não era suficiente para tantos sobrenomes tão grandes”, o homem comum percebe que “os méritos da linhagem, sempre por cima dos azares da política e horrores da guerra” determinam as regras.

    Sobre os personagens

    Fermina é uma moça isolada, cujos pensamentos o autor não nos revela. Ata e reata seus relacionamentos sem nos oferecer nenhuma chave além de impulsividade e capricho. De repente se dá conta da feiúra do Florentino, porém, ela já o conhecia há dois anos. Sem mais essa nem aquela muda de opinião quanto a casar-se com Juvenal. A descrição de sua noite de núpcias não chega a surpreender, a encantar ou convencer o leitor. As leitoras mulheres dificilmente se reconhecem nela.

    Ficamos sabendo que “nem ela nem ele podiam dizer se essa servidão recíproca se fundava no amor ou na comodidade, mas tinham sempre preferido ignorar a resposta.” O desencontro do casal e humoristicamente descrita em longas páginas em que desentendem sobre um sabonete, desentendimento ridículo que se prolonga por dias até terminar de modo natural e em tanto absurdo.

    Juvenal Urbino é outra personagem rasa. Prático, sem ilusões românticas, parece que com seu dinheiro comprou a mulher mais bonita e mais arisca quase que por capricho. Seu relacionamento com um papagaio é totalmente fora do contexto. engendrado para descrever a morte tão deselegante do doutor.

    Florentino Ariza “tem uns olhos de míope que aumentavam seu aspecto de desamparo.” Sua paixão por Fermina nasceu de longe e prolongou-se através de cartas. Sofre cruéis dissabores – por exemplo, é acometido por uma crise diarreica de ansiedade que o força a fugir para longe da amada. Florentino é descrito em tais termos que algumas leitoras sequer o reconhecem como par romântico e preferem achar que o livro trata da história de amor de Juvenal e Fermina.

    Gabo, como o autor é carinhosamente apelidado em sua terra natal, refuta os teóricos. Se há regras, é preciso quebrá-las. Um bom livro é feito com originalidade, ousadia e boas ideias, dosados com talento.